domingo, 27 de março de 2011

Diário da Ilha do Cajual I - O Paraíso dos Fósseis no litoral do Maranhão

Sob a visão de Aline Ghilardi - Viagem ao Cajual, maio/junho de 2010
ATENÇÃO: Todas as imagens aqui contidas têm direitos autorais e só poderão ser utilizadas/reproduzidas com a autorização prévia dos respectivos autores.

A Ilha do Cajual - Foto por Tito Aureliano

Primeiro dia – A chegada no Paraíso

A ansiedade era nítida naquela manhã. O catamarã ancorado nos aguardava com os quilos de materiais, entre ferramentas, água, comida, mochilas, barracas e sacos de dormir. Tudo meticulosamente preparado e planejado com antecedência pelo Prof. Manuel Alfredo e o pessoal da UFMA (Universidade Federal do Maranhão)...

Deveríamos ser breves. A travessia demoraria cerca de uma hora, mas isso, na verdade, era o de menos. Éramos, sobretudo, dependentes da forte maré; e a maré ali no litoral do Maranhão é a mais forte do Brasil. Ranzinza, ela não tolera atrasos. Dizem que pode oscilar cerca de 8 metros, apesar de geralmente ficar entre 6 e 7 - o que já é impressionante. Devido a ela é que o catamarã tem hora certa para chegar à Ilha, o nosso destino: o paraíso dos fósseis, a Ilha do Cajual no litoral maranhense. Se o barco se atrasar, perde-se o dia todo, pois não se pode chegar ao local durante a maré baixa.

Ilha do Cajual - Foto de Aline Ghilardi

A Ilha do Cajual já é lendária na paleontologia. Trata-se de um local ainda muito primitivo no presente, seus únicos habitantes constituem-se de descendentes de negros que ali se abrigaram no fim do século XIX depois da abolição da escravatura. Eles são poucos e ainda vivem de modo bastante arcaico no interior da ínsula, raros os que constroem sua habitação no litoral. A vegetação é preservada e a fauna nativa é bastante diversificada (principalmente aves e squamatas).

Nesse local de cenário  cinematográfico é que aflora o fantástico ‘bone-bed’ conhecido como ‘A Laje do Coringa’. De idade inferida como Albiana-Eocenomaniana (Cretáceo Médio, entre 119 e 95 milhões de anos atrás), o afloramento repousa escancarado no litoral da ilha. Uma laje escura aonde são encontrados restos não só de dinossauros gigantes do Cretáceo Médio, mas também restos de pterossauros, plantas continentais e peixes e répteis marinhos.

A Ilha do Cajual está localizada próxima a cidade de Alcântara, MA, inserida na Bacia de São Luís, e de fato guarda um dos mais importantes afloramentos fossilíferos brasileiros, com mais fósseis de dinossauros por metro quadrado do que qualquer outro no território nacional.

Localização da Ilha do Cajual
Localização da Bacia de São Luís

Para mais detalhes Geo-Paleontológicos acesse "O Maranhão no Tempo dos Dinossauros" (aqui). Este texto fornecerá também melhores subsídios para entender a continuação deste diário
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Estávamos no catamarã já há quase 50 minutos quando avistamos as praias do Cajual. O mar maranhense, barrento e traiçoeiro, lambia as areias claras. O Sol resplandecia no céu azul de poucas nuvens e nos banhávamos em sua luz, esparramados na proa.

Um colega disse avistar alguns botos, mas meus olhos ansiosos só conseguiam mirar a ‘terra à vista’. Bandos de guarás de um vermelho-rosa surpreendente rasgavam o céu em linhas organizadas. Eram centenas! O cenário era quase como o do filme de King Kong, de tão primitivo.

Praias na Ilha do Cajual - Foto de Tito Aureliano

Palmeiras se debruçavam nas praias e a vegetação depois se adensava para o interior. Cerca de 4 ou 5 pequenas cabanas de palhoça podiam ser avistadas. Cena rústica, com os nativos de um negro brilhante perambulando para cá e para lá.

Não demorou para que o catamarã se aproximasse da prainha. O coração vinha à boca e todos se preparavam para saltar. Seria organizada uma fila dentro d’água até a areia seca para transferir as bagagens. Não esperei sequer um minuto para saltar na água barrenta. Alguns outros também saltaram e a fila logo começou a se organizar.

Tito segurava com força a amarra do barco e as primeiras bagagens vinham sobre nossas cabeças. Lutávamos com o peso das sacolas e a correnteza. Logo uma montanha de malas e pacotes se formou na praia. Pronto. Dever cumprido: agora a apreciação.

Parei ao lado das bagagens, encharcada, e olhei em volta. Que cenário! Senti-me transportada ao passado instantaneamente. O som das ondas se elevou em minha mente e, aos poucos, o murmurinho dos companheiros foi desaparecendo até que eu mergulhasse numa viagem própria.

Paredões de arenito no litoral da ilha - Foto por Tito Aureliano

As areias se estendiam por quilômetros de praias paradisíacas. Agrupamentos de palmeiras se debruçavam nelas, preguiçosas. De um lado podiam-se ver as rochas negras da Laje do Coringa brincando de esconder com a maré, e do outro, longe, paredões de arenitos estratificados cavados insistentemente pelas ondas.

Para dentro da ilha a vegetação se apertava e dava um tom mais reservado, verde escuro, à cena. O contraste era bonito com o céu cerúleo pontuado de nuvens brancas pomposas.

As areias tinham uma textura gostosa nos pés e o vento vindo das águas acariciava macio a pele doída e morena de sol.

Procurei logo meu fiel chapéu e espanando-o com as mãos, o encaixei na cabeça com aquele típico olhar afiado sob o cenho. Mal podia esperar o recuo da maré para liderar meus pés ao afloramento caprichoso.
Prof. Manuel Alfredo nos deu cerca de 2 horas até o início das atividades. Tínhamos tempo para levar as mochilas até o abrigo ao lado da moradia de um dos habitantes da ilha - um nativo pescador de camarão e proprietário das cabanas de palhoça que nos serviriam de apoio durante a curta campanha - e descansar.
As barracas só deveriam ser montadas no final da tarde afim de evitar um ‘superaquecimento’ pelo impiedoso sol maranhense.

Barracas - Foto por Maiana Avalone

No tempo livre cada um procurou fazer o que lhe convinha naquele lugar paradisíaco. Preferi, num primeiro momento, conhecer um pouco dos colegas e refletir sobre o local – beleza, isolamento, fauna, flora e geologia. O sol castigava, por isso valia à pena ficar papeando na sombra do cajueiro bem localizado na porta de nossa cozinha improvisada. Esta ficava na cabana de preparo dos camarões do nosso anfitrião, aproveitando a fogueira já instalada.

A cozinha - Foto por Tito Aureliano

Algum tempo depois, achei que seria útil conhecer o nosso local de banho, já que alguns dos meninos se adiantavam para lá. Para encontrar a água doce 'limpa' adentrávamos a matinha por detrás da cabana da cozinha e atravessávamos dois pequenos pântanos. Cruzávamos a casa de outro nativo, um poço enlameado, andávamos mais um pouco e só então avistávamos o poço circular escondido, á direta. Uns 10-15 minutos de caminhada. A água não era cristalina, mas estava cheia de sedimento suspenso. Tudo bem, pouco importava, ela era doce e tirava o melado do mar. O único conselho de Ronny era fechar bem os lábios quando nos banhássemos - doenças...

As duas horas passaram rápido e nos apressávamos de volta para encontrar Prof. Manuel Alfredo. Todos estavam preparados para seguir ao afloramento. Peguei minha caderneta, a câmera de Ronny e as pequenas ferramentas, ajeitei o chapéu e não me esqueci de Juliet, meu elegante estwing (martelo) de estimação.

Prof. Manuel Alfredo explanando sobre os afloramentos da região - Foto por Aline Ghilardi

A caminhada era curta até os primeiros estratos aflorantes da Formação Alcântara. Havia uma lente fossilífera de algumas dezenas de centímetros que se revelava num barranco uns 300 ou 400 metros antes da afamada Laje do Coringa. Ficamos ali naquele início de trabalho. Prof. Manuel Alfredo nos transportou de volta ao Cretáceo Médio com um breve discurso sobre a geologia e paleobiologia do local. Ali, poucos anos antes, havia sido encontrado o holótipo da raia espadarte, portanto ficaríamos atentos para qualquer novo material.

Prof. Manuel Alfredo esclareceu que os fósseis dali eram de menor escala em comparação com aqueles da Laje do Coringa. Mas que tinham tanta importância quanto. Era impressionante a concentração de fósseis, uns sobre os outros. Dezenas de coprólitos (fezes fósseis) amontoados com cerca de 5 ou 6 centímetros, fragmentos de dentes alongados, escamas, fragmentos ósseos diversos, o que seriam placas dentárias desgastadas de peixes pulmonados, fragmentos de vegetais, tudo concentrado e fossilizado junto. A rocha tinha dois estratos mais facilmente reconhecíveis, um amarelado bastante friável e um acinzentado mais resistente. A tarefa de parte dos estudantes de graduação que acompanhavam o grupo era arrancar grandes blocos de rochas desses estratos para que, posteriormente, os pequenos fósseis fossem triados em laboratório.

Se arriscando pelo fóssil - Foto por Aline Ghilardi

Tivemos algum tempo ali. Pude recolher dentes e fragmentos de dentes de pterossauros, pedaços de lepidotrichias, coprólitos, uma pequena falange, provavelmente crocodiliana, pedaços de vegetais, um fragmento de dente de saurópode, vértebras de peixes e fragmentos vegetais diversos. Ainda estava impressionada com a concentração dos fósseis e lutava para acostumar meus olhos às imagens de busca mais 
relevantes.


Eu procurando fósseis - Foto por Ronny Barros

Afloramento - Foto por Tito Aureliano

Não iríamos à Laje do Coringa naquela ocasião, mas eu podia ver sua silhueta provocante no horizonte raso.
Prof. Manuel Alfredo seguiria à outra ponta da praia para uma aula mais tarde, portanto não deveríamos nos estender ali. Voltamos, e agora prepararíamos o almoço.

Não demorou muito. Foi só aquecer a água para os CupNoodles de entrada  e aguardar um pouco para o arroz com lingüiça e farofa ficar pronto. Um luxo de comida - devo salientar.

O tempo de descanso foi curto. Enquanto aguardávamos aproveitei para saborear as histórias sobre a controvérsia da geologia local, principalmente no que se diz respeito à idade dos afloramentos. Acompanhei atentamente as observações do Prof. Manuel Alfredo sobre rifting e deriva e também os relatos de descobertas de fósseis nas imediações da ilha. Estes, que talvez pudessem oferecer alguma crono-correlação.

Vasculhando a praia - Por Tito Aureliano

Não seriam necessários materiais de coleta nessa localidade ao qual nos dirigíamos. Seria mais uma aula de geologia para os graduandos que nos acompanhavam e uma apresentação um pouco mais formal para nós, visitantes. Ainda assim, carreguei algumas ferramentas. Sem o meu martelo pendente ou a caderneta à disposição parece que sou algo incompleta.

Eram 7 quilômetros de caminhada até o local. Minhas pernas longas e os passos acelerados de costume me colocavam a frente. É inconsciente, são respostas de pés de explorador. Ia intercalando conversa cotidiana e silêncio reflexivo com May ao meu lado. Os pés batiam na areia endurecida da maré recolhida e eu carregava comigo o pensamento de que dava meus passos na Gondwana africana.

A caminho dos afloramentos - Por Tito Aureliano

Cruzamos um regato de águas doces e pouco depois chegamos a um paredão de arenito estratificado. Lindo!
 Ok, perdoe: aos olhos de um geólogo ou paleontólogo, lindo.

Camadas avermelhadas se intercalavam com outras de amarelo destacado ou de amarelo pálido. Todas com poucos centímetros, algumas raras com dezenas deles, formando pacotes. Grandes matacões haviam se soltado de uma camada superior do paredão e guardavam os fósseis que estavam ao nosso alcance.

Os lindos paredões de arenito - Foto por Tito Aureliano

Ali, material semelhante ao do afloramento daquele dia de manhã, mas com uma diferença crucial, aqui dominavam impressões e moldes de invertebrados com conchas. Os desenhos das conchas eram perfeitos e Higor – o 'invertebrólogo' de plantão – colocou-se a admirar e vasculhar os registros. Ele me mostrou a delicadeza de um icnofóssil de polichaeta (um tipo de anelídeo marinho): pequenos tubos com milímetros de diâmetro formando estruturas como bolos de cabelos embaraçados. A fragilidade era surpreendente.
Ali, as conchas ajudam a definir a energia e a salinidade do ambiente pretérito. Nem sempre são os carismáticos vertebrados que tem as respostas. Na verdade, pouquíssimas vezes eles têm.

A exposição arenítica era didática e enquanto Manuel Alfredo explicava, fiquei boquiaberta com a beleza geológica do local. Era possível identificar evidências de mudanças de fluxo, áreas com predominâncias de eventos de erosão, algumas estruturas que identifiquei como Hummocky e nítidos registros de sismos cretácicos cortanto os pacotes.

História conturbada.

Manuel Alfredo destacou o processo de mineralização rápida que ocorre no local, devido à presença alguns elementos peculiares no solo do mangue. Materiais recentes, holocênicos (Uma mandíbula de Pecari e um crâneo de Mazama), já foram encontrados por ali com grau de mineralização bastante avançado, o que levou os próprios pesquisadores a uma certa confusão.

Observamos o horizonte de onde saem os fósseis e refleti sobre a efemeridade daquele afloramento. O paredão estava condenado pelas famintas ondas que clamam de volta o que um dia já foi delas.

Professor Manoel Alfredo seguiu com os alunos para a ponta da praia para continuar a aula, decidi ficar com alguns poucos outros. Tinha um bocado de informações para colocar em ordem. Ronny vasculhava as rochas e 'Padawã' tentava retirar a valva completa de um grande Ostreidae (Ostra). Fui desenhar nas areias.

Prof. Manuel Alfredo e alunos - Foto por Maiana Avalone

Era fascinante estar ali. Quanta informação havia absorvido sobre um pedaço da história do Cretáceo Médio.  Olhei para o mar e imaginei que do outro lado da ilha, há 95 milhões de anos atrás, a África estava logo ali. Imaginei toda ínsula povoada pelos monstros cretácicos e o cenário ajudava a devanear. Comecei a desenhar um grande saurópode.

Os guarás nos céus lembravam bandos de pterossauros rosados, os sons das aves não deveriam estar distantes daqueles emitidos pelos répteis alados. Logo Tito se reuniu à minha empreitada artística megalomaníaca nas areias e montamos um cenário que devia refletir uma cena bastante comum daquele mundo pré-histórico. Parei para admirar o Carcharodontosauridae (um tipo de dinossauro carnívoro) de boca escancarada para o saurópode gigante que eu havia feito. Deveria ser uma cena aterrorizante quando esses dois titãs se topavam.

As areiais da ilha - Foto por Tito Aureliano

Engraçado. Talvez fosse uma ironia do tempo, que macacos cerebrudos, descendentes daquilo que já foi comida de dinossauro, fizessem uma releitura do passado; Marcando nas areias uma cena que aquelas mesmas há tanto tempo já haviam assistido. Aquele cenário todo já havia sido palco de enfrentamento semelhante. Salvo as diferenças óbvias carregadas do tempo geológico, aquele era o mesmo pedaço de chão.

O dia ia ficando nublado e o vento soprava com mais força.

Eu e Tito nos juntamos a Ronny e 'Padawã' que estavam próximos ao paredão. Escalamos um pedaço e nos acomodamos para observar a praia. 'Padawã' estava sentido por ter fragmentado a linda concha, mas parecia não haver porque se preocupar. Eram tantas, que Ronny deu de ombros.

Ficamos um tempo parados trocando algumas idéias sobre o local. Ronny apontava um trecho ao longe que chamava de “afloramento dos desesperados” ou algo assim. Contou que ali o tempo de coleta era cronometrado. Era longe, tinha bons fósseis, mas tinham que ser espertos para não ficarem presos ou serem engolidos pela maré. Observei com respeito.

Aos poucos, grupos iam retornando e liderando o caminho de volta a base. Ficamos por ali ainda, com os meninos, além de Higor e a geóloga do grupo que deu uma pausa porque queria coletar alguns pequenos geodos. Eram frágeis, mas consegui retirar um bom exemplar depois de quebrar o melhor deles...

O sol se recolhia rápido e decidimos voltar, teríamos que montar as tendas. Fui caminhando ao lado de Tito e observando encantada por todo o caminho o processo de deposição dos pacotes de areia na beira da praia. Estavam cortados e era possível identificar estratificação, plano-paralela ou cruzada, além de áreas de erosão e redeposição. Fascinante. Ainda estavam incosolidadas, mas na essência era mesmo processo que formou parte dos pacotes de rocha sólida que tínhamos acabado de apreciar.

Havíamos ao todo caminhado 14 quilômetros.

Cão no acampamento - Foto de Maiana Avalone

No local do acampamento, sem demora, colocamos todas as tendas de pé antes de escurecer. Peguei as coisas do banho e me juntei a May e outra das meninas para ir ao ‘sítio do pocinho’. Encaixei minha fiel lanterna espeleológica na cabeça e fui liderando a fila, lançando a forte luz no escuro insensível. No caminho era inevitável pensar que nos sujaríamos inteiras na volta. Afinal, o trecho era longo e tínhamos que atravessar dois pequenos pântanos enlameados. Algumas vezes era puro treinamento de ginástica olímpica: Equilíbrio. Caminhávamos sobre troncos estreitos que nos davam suporte para não afundar. Isso rendeu algumas passagens hilárias.

Antes de chegar ao poço ainda topamos com alguns dos meninos que haviam ido banhar-se mais cedo. Graças a eles encontramos a tal cacimba no escuro. Ela ficava muito escondida e era difícil enxergar sua silhueta nos tons cinzentos da noite.

Penduramos as coisas numa árvore e nos viramos para encarar aquela boca redonda enlameada no chão. Era o jeito. Eu sabia que ia ser devorada por mosquitos, mas arrancamos as roupas e seguimos com o baldinho para perto do poço. Ensaboávamo-nos e rapidamente atirávamos baldes de água umas nas outras para nos livrar não só do sabão, mas principalmente dos mosquitos. Era inacreditável a quantidade deles!

Lembrei-me de manter a boca fechada enquanto me lavava. Aproveitei o que pude da água doce e corri para colocar repelente e roupas. Inconcebível: as muriçocas vinham em nuvens! Já havia estado diversas vezes em lugares na mata úmida ou no litoral aonde os mosquitos são imperdoáveis, mas aqui não havia precedentes!
Retornamos o mais rápido que pudemos, tomando cuidado para não nos sujarmos demais. A fome já apertava e ao passar pela cozinha, a caminho das barracas, sentimos o cheiro bom de comida quente sendo preparada.

Pescador de camarões nativo da ilha - Foto de algum de nós

O resto do pessoal havia desistido de banhar-se no poço. Não lhes agradava a idéia da água barrenta. Eles se lavavam no delta de um regato salobro na praia. “Pelo menos suas águas são transparentes!”.  Ah, não...Digo eu:  “quem vê cara não vê coração”. Nem sempre o que é afável aos olhos é saudável ... Nesse caso a água. O regato era local de banho dos porcos e aonde os nativos jogavam os restos da cozinha. Além disso, todos estavam usando suas margens para se aliviar. Eu nunca me arriscaria naquelas águas. Pelo menos a do poço era usada pelos nativos para lavar louças. Devia ser um indicativo de que era “menos-pior”.

Restava Tito no acampamento e como ele não queria banhar-se nas águas do regato, porém não sabia aonde era o poço, resolvi levá-lo para ensinar o caminho. Ah, o martírio dos mosquitos de novo. Mordi os lábios e fui.
Além de perder o chinelo, com a tira arrebentada na lama do pantaninho, Tito perdeu o sabonete e a escova-de-dentes. Tomou um banho apressado, sofrendo com os mosquitos, e assim que terminou pegamos impacientes o caminho de volta. O fluxo de palavrões era contínuo, dada a irritação com os Diptera malditos, mas é claro, não deixavam de ser somados as risadas. Pura auto-ironia: Bom humor: sempre. Como talentosos paleontólogos reencontramos o sabonete e a escova-de-dentes no escuro e então retornamos rapidamente ao acampamento.

A janta estava servida e foi deliciosa. É assim sempre quando se está com fome. Tínhamos o resto do arroz do almoço incrementado com salsichas no molho e as sobras da farofa. Nunca se deve reclamar de comida de acampamento. Nunca se deve reclamar de comida. Tínhamos ainda o incrível privilégio de ter suco de fruta em caixinha! Uma regalia.

A noite foi tranqüila e era possível acompanhar o fabuloso trajeto da lua brilhante pelo céu através da cobertura da barraca. Alguns ficaram conversando e cantando até tarde, eu preferi o espaço reservado da toca.

O catamarã viria cedo, mas buscaria somente parte do pessoal que nos acompanhava. Restariam 12 e seriam esses 12 que passariam pela prova mais dura do Cajual. Por enquanto... a noite era serena.....

Próximo capítulo: A tormenta
... continua

5 comentários:

  1. Adorei o primeiro capítulo desta aventura,Aline! Deve ter sido fascinante mesmo! Não vou ler tudo de uma só vez...vou saborear com calma...cada dia um pouquinho. Parabéns!... postagem e fotos,belíssimas! Compartilhei no facebook.
    um abraço

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  2. Oi Iara!!! Fico muito contente que tenha gostado da história! Foi realmente uma grande aventura... ufa! Espero que goste dos próximos capítulos ;]
    Obrigada por visitar o blog e escreva sempre que puder!!!
    Um forte abraço!!!

    Aline

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  3. Olá, bom dia. gostaria de saber se posso utilizar as fotos numa apresentação.

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  4. Olá, bom dia. As fotos podem ser usadas se devidamente creditadas aos autores e exclusivamente para fins *não* lucrativos.

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    1. Ok Aline. Muito obrigado. Utilizarei para uma apresentação à Emap e algumas secretarias do Estado, com o intuito de realizarmos uma ação social na Ilha.

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